segunda-feira, 21 de maio de 2012


      A FADA E O SAPO
                                                          
        Maria Hilda de J. Alão.

            Todas as noites uma fada ficava um tempão olhando para o céu. Sentada numa árvore ela contava as estrelas, observava as constelações, a estrela polar, o cruzeiro do sul e todas as estrelas que seus olhos mágicos podiam ver. Ficava maravilhada. Como é lindo! O espaço, para ela, era como um imenso veludo negro bordado com faiscantes diamantes. Um sonho.
            Desejava poder viajar por este espaço levando a varinha de condão para fazer suas mágicas: saltar de estrela para estrela do jeito que se pula a amarelinha; unir estrelas com um traço para formar variados desenhos; fazer aparecer uma ponte ligando a Terra à Lua e levar sua casinha de vitória-régia para passar férias. Mas na Lua não existe água! Não tem importância, com a varinha mágica ela riscaria o solo e nasceria um belo rio. Estava concentrada nesses pensamentos quando uma vozinha a despertou:
            - Sonhar é bom; com o possível é melhor ainda...
            Era o velho sapo que vivia na margem do rio, e que, há muito tempo, vinha observando a fada sonhadora.
            - Tens razão, mas sonhos possíveis e impossíveis fazem parte de mim. Por acaso não conheces as histórias de fadas, gnomos e outros seres imaginários? – perguntou ela.
            - Conheço. Nesta minha longa vida eu já vi de tudo, mas o que eu quero dizer é que não se deve olhar só para cima. Experimente olhar para baixo, a beleza lá do alto está refletida aqui de forma diferente. Já prestou atenção no beija-flor; na orquídea; na vitória-régia onde você mora; no rio que serpenteia o verde da mata? Você não precisa viajar para o espaço a fim de realizar seu sonho. Veja as águas plácidas do rio!
            A fadinha olhou e viu refletido, no espelho da água, o céu com toda a sua maravilha. Bateu suas asinhas de libélula e voou sobre a água ouvindo o sapo que dizia:
            - Vamos menina, faça a sua mágica. Use a varinha de condão para viajar da forma que sonhou. Você tem aí o universo a sua disposição. Voe, salte, corra...
            Ela voava e cantava, pulando de estrela para estrela sem tocar a água. Era o seu jogo da amarelinha. Fazia traços no ar, com a varinha, como se estivesse unindo as estrelas. A ela se juntaram todos os pirilampos e o rio tornou-se encantado com a magia das luzes do céu e da terra.
            A alegria da fada e a luz dos pirilampos despertaram os bichos que se propuseram a divinizar a viagem da fadinha pelo universo que corria com as águas. Formou-se um afinado coral entoando a sinfonia da natureza. As árvores emocionadas choravam lágrimas de sereno que caiam no rio formando pequenos círculos, e os peixes não nadavam para não quebrar o encanto da cena. O canto prosseguia e cada nota emitida era uma nave espacial levando os sonhos da fadinha e de todos os viventes que, de uma forma ou de outra, passam algum tempo com os olhos pregados no céu tentando decifrar o mistério das estrelas.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Conto: Folhas Secas

Folhas Secas
Francisco Marques (Chico dos Bonecos)
            Eu estava dando uma aula de Matemática e todos os alunos acompanhavam atentamente. Todos? Quase.
           Carolina equilibrava o apontador na ponta da régua, Lucas recolhia as borrachas dos vizinhos e construía um prédio, Renata conferia as canetas e os lápis do seu estojo vermelhíssimo e Hélder olhava para o pátio.O pátio? O que acontecia no pátio?
           Após o recreio, dona Natália varria calmamente as folhas secas e amontoava e guardava tudo dentro de um enorme saco plástico azul. Terminando o varre-varre, dona Natália amarrou a boca do saco plástico e estacionou aquele bafuá de folhas secas perto do portão. Hélder observava atentamente. E eu observava a observação de Hélder - sem descuidar da minha aula de Matemática.
           De repente, Hélder foi arregalando os olhos e franzindo a testa. Qual o motivo do espanto? Hélder percebeu alguma coisa no meio das folhas movendo-se deseperadamente, com aflição, sufoco, falta de ar. Hélder buscava interpretações para a cena, analisava possibilidades, mas o perfil do passarinho já se delineava na transparência azul do plástico. Um pássaro novo caiu do ninho e foi confundido com as folhas secas e foi varrido e agora lutava pela liberdade.
            - Ele tá preso! O grito de Hélder interrompeu o final da multiplicação de 15 por 127. Todos os alunos olharam para o pátio. E todos nós concordamos, sem palavras: o bico do passarinho tentava romper aquela estranha pele azul. Hélder saiu da sala e nós fomos atrás. E antes que eu pudesse pronunciar a primeira sílaba da palavra "calma", o saco plástico simplesmente explodiu, as folhas voaram e as crianças pularam de alegria.
            Alguns alunos dizem que havia dois passarinhos presos. Outros viram três passarinhos voando felizes e agradecidos. Lucas diz que era um beija-flor. Renata insiste que era uma cigarra. Eu, sinceramente, só vi folhas secas voando.
            Para concluir esta inesquecível aula de Matemática, pegamos vassouras, pás e sacos plásticos e fomos varrer novamente o pátio.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

"Eu poderia passar horas e horas escrevendo aqui, mas será que alguém ficaria horas e horas lendo o que eu escrevi?". Com essa pergunta veio então a ideia de fazer algo dinâmico e interessante para que toda pessoa possa ler, desde uma piada até um poema, e que perceba que ler é legal.